quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Príons normais e infectados

A proteína príon é geralmente encontrada nos seres humanos de forma não-infecciosa. A diferença entre a versão normal e a infectada está na distribuição dos aminoácidos, que, na versão normal, aprensentam-se na forma alfa-hélice, enquanto na versão infectada, apresentam-se na forma de folha beta.

Diferença entre a forma de
um príon normal e um príon
infeccioso
Segundo pesquisadores, o local onde os príons infectados devem ser combatidos é na membrana celular, do lado de fora da célula. "Se conseguirmos impedir que este aglomerado de príons interaja com a superfície celular, impossibilitaremos sua penetração na célula, o que impediria seu contato com as proteínas do nosso organismo e, consequentemente, a infecção", explica Marco Antônio Prado, professor do Departamento de Farmacologia da UFMG.

A doença priônica mais comum entre humanos é a Creutzfeldt-Jakob. Segundo Prado, ela pode ser transmitida em procedimentos cirúrgicos, como neurocirurgias, devido a utilização de instrumentos sem a devida higienização. "Houve também casos de infecção por uso de hormônios de crescimento obtidos de cadáveres", diz. Ele explica ainda que doenças priônicas também podem ser transmitidas hereditariamente.

FONTE: Júlico Molica, Ciência Hoje On-line, 13/12/2005

Vídeos sobre Creutzfeldt-Jakob


Vídeo de paciente sofrendo de Creutzfeldt-Jakob. Note a demência e os espasmos involuntários, com descrito no post sobre a doença.






Documentário coreano com áudio em inglês sobre a doença, com uma visão geral.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Linha do Tempo

1732: Scrapie é documentada pela primeira vez em ovinos.

1765: Primeiros relatos de Insônia Familiar Fatal.

1920: H. G. Creudzfeldt e A. Jakob descrevem a doença conhecida como Creutzfeldt-Jakob (CJD ou DCJ); primeiros relatos de kuru em tribos Fore de Nova Guiné.

1938: Scrapie é descoberta como infecciosa entre ovinos.

1976: O virologista americano Daniel Carleton Gajdsuked ganha o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina pelos seus trabalhos com kuru e a tribo Fore.

1982: Stanley Prusiner e Bolton descobrem que o agente infeccioso da scrapie não é uma proteína purificada, é um príon.

1985: CJD é relacionada a suplementes de hormônio de crescimento (hGH) após pacientes receberem o hormônio e desenvolverem doenças degenerativas neurológicas.

1986: Primeiro relato de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), em um rebanho no Reino Unido.

1989: Primeiro caso de relatos de EEB foram do Reino Unido.

1989: Descoberta de relação genética entre mutações do PrP e síndrome de Gerstmann-Straussler-Scheinker.

1994: Primeiros casos da variante de Creutzfeldt-Jakob em adolescentes e adultos na Grã-Bretanha. O paciente mais jovem possuia 12 anos e o mais velho, 74. Mais de 165 pessoas morreram da variação no Reino Unido, Irlanda, Itália, Portugal e França neste ano.

1997: Stanley Prusiner recebe o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina pela descoberta dos "príons".

Encefalopatia espongiforme bovina


Gado doméstico
Encefalopatia espongiforme bovina é popularmente conhecida como a doença da vaca louca. É uma doença neurodegenerativa que afeta o bovinos domésticos. A doença surgiu no início dos anos 80 na Inglaterra e possui o príon como agente patogênico. É transmissível ao homem na forma da variante Creutzfeldt-Jakob.

Os primeiros relatos ocorreram em abril de 1985, no Reino Unido, com veterinários indicando vacas com 4 a 5 anos de idade adoecendo de uma doença fatal que apresentava disfunções de sistema nervoso central. A epidemia avançou rapidamente, com mais de 3.500 casos por mês em janeiro de 1993.

Os sinais nervosos eram desordens comportamentais causadas por alterações do estado mental (apreensão, nervosismo e agressividade), falta de coordenação dos membros durante a caminhada e incapacidade de se levantar. O animal perdia o apetite. Era necessário sacrificar este bovino em até 3 semanas, pois não respondiam a nenhum tratamento. Não havia distinção de raça.

A EEB estava associada ao uso de farinha de carne e ossos, utilizada na produção de rações, que era proveniente dos cadáveres de animais que não podiam ser consumidos. Esses animais eram chamados de "Four-D", por possuirem os 4 "d", de disabled (incapacitados), diseased (doentes), dying (em processo de morte) e dead (já mortos na fazenda).
O uso desse material permitiu o crescimento da epidemia porque os animais afetados pela doença eram reciclados para a produção de mais farinha de carne e ossos.

A descoberta resultou em uma política de incineração dos animais infecctados. O governo britânico proibiu em 1988 o uso da proteína originada dos tecidos de ruminantes contaminados, ocasionando o declínio da doença em 1993. No Reino Unido ocorreram 5.068 casos (2,75% do total mundial) de EEB até dezembro de 2004. Testes experimentais demonstraram que apenas 1 g do cérebro de um animal com EEB administrado por via oral a outros bovinos era capaz de causar a doença nos padrões normais.

Em 2003, uma missão Européia de especialistas em EEB avaliou o Risco Geográfico da EEB (Grupo GBR) dos rebanhos brasileiros. Com base nas medidas tomadas, considerou satisfatórias as garantias fornecidas pelo Governo Brasileiro sobre os bovinos importados, classificando o Brasil como risco 1, ou seja, "altamente improvável" de apresentar a ocorrência da EEB.
Um ponto que favoreceu esta classificação foi o fato de que os sistemas de produção de leite e de carne bovina utilizados no Brasil são quase que exclusivamente a pasto e a suplementação alimentar, quando ocorre, utiliza principalmente fontes de proteína de origem vegetal, tornando o país naturalmente refratário ao surgimento e à manutenção da EEB em seu território.

Uma animação explicando a encefalopatia espongiforme bovina pode ser encontrada no site Argosy Medical.

Síndrome de Gerstmann-Sträussler-Scheinker

Os diferentes locais que as doenças
causadas por príons afetam. A GSS
afeta o cerebelo.
A síndrome de Gerstmann-Sträussler-Scheinker é uma doença muito rara, normalmente hereditária, neurodegenerativa e fatal que afeta pacientes entre os 20 e 60 anos de idade. É classificada como encefalopatia espongiforme transmissível. Ocorre em um indivíduo a cada 100 milhões.

O nome é devido aos pesquisadores austríacos Josef Gerstmann, Ernst Sträussler and Ilya Scheinker.

É causada por prions, uma classe de proteínas patogênicas altamente resistentes a proteases. Os sintomas incluem o desenvolvimento de disartria (dificuldade para falar), ataxia cerebral (instabilidade) e demência progressiva. A perda de memória é um dos sintomas iniciais. Muitos pacientes apresentam nistagmo (movimento involuntário dos olhos), distúrbios visuais, cegueira e surdez. As pesquisas neuropatológicas descobrram uma decomposição generalizada das placas amilóides, compostos de príons duplicados de forma anormal.

Não há cura para a GSS mas o diagnóstico pode ocorrer através de testes genéticos.
A doença também é considerada uma evolução clínica mais lenta da doença Creutzfeldt-Jakob, podendo o indivíduo sobreviver até 5 anos após os sintomas iniciais.

Insônia Familiar Fatal

Insônia familiar fatal (IFF) é uma doença causada por príons em humanos transmitida de forma hereditária. É incurável e envolve a progessão da insônia para níveis que causam alucinações, delírios e estados de confusão mental como demências. Possui início entre os 35 e 60 anos, mas com tendência a iniciar após o parto. O tempo de sobrevivência para pacientes diagnosticados é de, em média, 18 meses. O primeiro registro de vítima ocorreu com um homem italiano, falecido em Veneza, em 1765. 

Os quatro estágios da doença são:
1. O paciente sofre de insônia crescente, apresentando paranóias e fobias. Esta fase dura quatro meses.
2. Alucinações e ataques de pânico se tornam perceptíveis, durando cerca de 5 meses.
3. Completa incapacidade para dormir seguido de uma rápida erda de peso. Dura 3 meses.
4. Demência, durante a qual o paciente deixa de responder a estímulos. Esta é a progressão final da doença, seguida da morte.

Outros sintomas incluem sudorese profunda, pupilas dilatadas, entrada repentina na menopausa para mulheres e impotência para homens, pescoço rígido, elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca.

Não possui cura. Estudos indicam que fármacos para dormir não auxiliam no tratamento, só piorando o estado da doença.

A proteína mutante, PrPsc, foi encontrada em 40 famílias ao redor do mundo, afetando em torno de 100 pessoas. 
O gene que fornece instruções para a PrPC está localizado no cromossomo 20. A doença é uma mudança de aminoácido na posição 178, quando uma aspargina é encontrada ao invés de um ácido aspártico normal. Esta mudança deve ser acompanhada de uma metionina na posição 129".

Michael Corke
Um caso famoso é o de Michael Corke, um professor de música em Chicago. Após seu 40o. aniversário, em 1991, ele começou a apresentar roblemas para dormir. Após diversas noites em claro, foi admitido para um hospital e o diagnóstico inicial foi de esclerose múltipla. Os médicos tentaram induzir coma com uma combinação de sedativos, mas, seu cérebro ainda não "desligava". Corke morreu após 6 meses sem dormir.

No final dos anos 2000, testes feitos em ratos expressaram danos similares aos da doença em humanos, com períodos mais curtos de sono, danos no tálamo e mortes precoces.

Creutzfeldt-Jakob

A Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é uma desordem fatal que ataca o sistema nervoso central, caracterizada por demência rapidamente progressiva, causando dano nos tecidos cerebrais, associada a contrações musculares involuntárias. É atribuida a uma partícula proteinácea infecciosa, determinada príon.

A transmissão pode ocorrer:
- De forma esporádica, quando não existe uma fonte infecciosa conhecida nem evidência da doença na história familiar do paciente (ocorre em 85% dos casos).
- De forma hereditária, fruto de uma mutação no gene que codifica a produção da proteína priônica (ocorre entre 10% e 15% dos casos).
- De forma iatrogênica (como resultado de uma ação médica), como consequência de transplantes (dura-máter, córnea), ou através do uso de instrumentos neuro-cirúrgicos ou eletrodos intracerebrais contaminados.
- Através da ingestão de carne de gado portador da doença da vaca louca, sendo então um fator de risco.
- Através da transmissão sanguínea da variante vDCJ, com um único caso suspeito e divulgado.

Característica
 histológica da doença
O diagnóstico ocorre através de observações clínicas e características atípicas em eletroencefalografias. A biópsia do tecido cerebral é indicação definitiva. Como toda doença causada por príons, não existe um tratamento ou vacina. A prevenção ocorre através de medidas como a proibição desde 1998 da importação de derivados de sangue humano doado por pessoas residentes no Reino Unido, além da importação e comercialização de carne bovina e produtos de uso em saúde cuja matéria-prima seja originada de países que apresentaram caso de EEB. A OMS e a Anvisa possuem diversas normais gerais de biossegurança (além das citadas anteriormente), que podem ser acessadas por este link.

A doença descrita pela primeira vez na Alemanha, por Hans Gerhard Creutzfeldt e Alfons Maria Jakob em 1920 e já foi identificada em diversos países, como França, Reino Unido, Espanha, Itália, Austrália, Holanda, Estados Unidos e Japão. Nestes países, no período de 1993 a 2000, foram registrados 2.199 casos de forma esporádica. Nos Estados Unidos foram registradas 4.751 mortes entre 1979 a 1998. No Brasil, no período de 1980 a 1999, foram registrados 105 óbitos suseitos de DCJ.

Uma epidemia clássica ocorreu nas décadas de 1950 e 1960, entre pessoas do povo Papua, nativos da Nova Guiné. A prática do canibalismo, que vitimou principalmente mulheres e crianças pela ingestão de cérebros de seus familiares mortos, foi apontado como o mecanismo de transmissão. O kuru, como é chamado, foi controlado através da probição do canibalismo.

Em 1996, o governo inglês declarou a possível existência de conexão entre a encefalopatia espongiforme bovina (EEB), a doença da vaca louca, e o desenvolvimento de uma nova forma da doença de Creutzfeldt-Jakob, determinada variante de Creudzfeldt-Jakob (vDCJ) que atinge uma faixa etária mais jovem. Recentemente, o Ministério da Saúde da Grã-Bretanha divulgou o primeiro caso mundial de possível transmissão sanguínea da nova variante vDCJ.

A incidência aproximada é de um caso para cada 1 milhão pessoas, sendo que a doença tem distribuição mundial.

No post "Vídeos sobre Creutzfeldt-Jakob" são encontrados exemplos multimídia da doença.

Kuru

O que é
Figura 1. Membros da tribo Fore com kuru
O kuru é uma das doenças neurodegenerativas causadas por príons, observada pela primeira vez em 1920 na Nova Guiné. Alguns povos nativos deste país, como a tribo Fore, possuíam o costume de cozinhar e comer os familiares mortos, sendo que as fêmeas usualmente consumiam o cérebro (o mais infeccioso dos órgãos). Os príons, presentes no tecido nervoso, eram absorvidos pela mucosa intestinal ou introduzidos na corrente sanguínea através de ferimentos, migrando até o SNC. O nome “kuru” deriva do idioma Fore, e significa “tremer de medo”, sendo a tremedeira um dos principais sintomas da doença. Assim como qualquer encefalopatia espongiforme transmissível (EST) causada por estes agentes, o kuru apresenta três estágios:

O primeiro estágio, chamado de fase ambulante, os sintomas são falta de firmeza no andar, na voz, nas mãos e nos olhos, tremores e descoordenação dos membros.
No segundo estágio, chamado de fase sedentária, os pacientes são incapazes de mover-se sem o auxílio de um suporte, os tremores são mais severos, a desarticulação da fala, depressão e ataxia (perda do controle dos músculos).
No estágio terminal, o paciente torna-se incapaz de sentar sem suporte e, além dos sintomas anteriormente citados aparecem de forma agravada, há incontinência fecal e urinária e dificuldade em engolir. Os sintomas são causados pela disfunção nervosa.

Com a proibição do canibalismo na década de 50, os casos de kuru tornaram-se menos frequentes.

Saiba mais
Artigo "Kuru" (EN), escrito por Zartash Zafar Khan. (Acessado dia 18 de outubro de 2011)

Scrapie

O que é
Figura 1. Animal com scrapie
Scrapie é o nome usual da paraplexia enzoótica ovina, uma doença degenerativa contagiosa do sistema nervoso central de ovinos causada por príons, classificada como uma encefalopatia espongiforme transmissível (EET).

No auge da doença, que aconteceu nos anos 50, as ocorrências relatam principalmente animais adultos de ambos sexos, na faixa de 2 a 4 anos de idade, sendo raramente observada em ovinos com idades inferiores, já que o período de encubação varia de 3 a 5 anos.

A transmissão acontece através da inserção de um animal infectado no rebanho livre da doença e também através da placenta infectada,  de mãe para cordeiro ou outro animal que entrar em contato com esta membrana.

A maior parte da replicação da doença ocorre no período de incubação, migrando então para o sistema nervoso central, causando diversas manifestações clínicas (Figura 1) como a dificuldade na ingestão de alimentos, descoordenação, prurido intenso, bruxismo, entre outras, dependendo da área do cérebro afetada.  O diagnóstico é feito através das manifestações clínicas e exames histopatológicos do encéfalo do animal morto.

Indícios afirmam que suplementações alimentícias produzidas através de carcaças de ovinos que possuíam scrapie foram a origem da encefalopatia espongiforme bovina (BSE), ou “doença da vaca louca”.

O nível de morbidade em animais afetados é de 100%, uma vez que doenças causadas por príons são incuráveis. Não existem relatos da transmissão direta de scrapie para humanos.

FONTE: artigo "Scrapie" escrito por Débora Carvalho Meldau.